(…) E não torna, porque há outra face em que a política de Sarkozy se aproxima e até às vezes se confunde com a política de Hitler. Não é por acaso que a França resolveu escolher os ciganos como objecto do seu rigor e não escolheu, por exemplo, os portugueses. Os ciganos são uma minoria étnica vulnerável e não têm um Estado que os defenda, e os portugueses não são e têm o mais velho Estado da Europa, ainda por cima membro da UE, para falar por eles. Promover colectivamente um pequeno grupo de “estranhos”, sem protecção, a bode expiatório de uma crise grave e à superfície irresolúvel é uma antiga técnica do populismo, que Sarkozy (como Hitler) não hesitou em usar. Só que, por força, ela estabelece sempre sem exame uma culpa colectiva e aponta ao cidadão comum os “culpados” de um “crime” imaginário.
Qual é o verdadeiro “crime” dos ciganos? Em primeiro lugar, a “raça” (uma noção mais do que ambígua). Em segundo lugar a cultura, que, neste caso, incluiu o nomadismo. E, em terceiro lugar, a recusa de se “integrar” na sociedade francesa, presumindo que existe um único modelo de “sociedade francesa”. Ora, como muitas vezes já se verificou, estas três “razões” levam directamente ao ódio e à perseguição. E aqui Viviane Reding não se engana, a II Guerra mostrou a que extremos pode chegar e com que rapidez se pode espalhar o estigma imposto por uma autoridade nacional a uma minoria étnica. Berlusconi já permitiu 315 “intervenções” do Estado em acampamentos de ciganos. Pior ainda, consta que a santificada Angela Merkel se prepara para expulsar 12.000. Onde fica nisto e para onde vai a “Europa” dos direitos do homem?
Vasco Pulido Valente, in Público
Sem comentários:
Enviar um comentário